O mercado de produtos voltados ao público gamer só cresce: em todo mundo, os equipamentos mais desejados são aqueles com cores diferentes, configurações feitas para reduzir gargalos nas jogatinas e, principalmente, que trazem um apelo cada vez maior para uma categoria de usuários. A popularidade dos notebooks gamers se apoiam justamente nesta esteira: se antes eram produtos caros e “de nicho”, importados principalmente por fabricantes de hardware em geral, hoje tornaram-se mais acessíveis e mais populares no mercado. É o caso do Samsung Odyssey.
Este é o primeiro notebook da Samsung com apelo gamer e que vem para brigar em um mercado repleto de representantes, como as linhas Predator, ROG e Inspiron Gaming, se encaixando na faixa de preço entre 4 e 5 mil reais. Com um processador Intel Core i7, 8GB de memória RAM e a GPU dedicada NVIDIA GTX 1050, o Odyssey torna-se uma boa opção no mercado altamente competitivo. Existem algumas ressalvas, principalmente considerando a GPU dedicada e o uso de um disco rígido mecânico, além da dificuldade de realizar atualizações físicas no modelo, como troca do disco rígido, por exemplo.
Eu passei algumas semanas com o Odyssey e conto minha experiência abaixo:
Design

A Samsung não abriu mão da conexão Ethernet e manteve no dispositivo, mesmo com a espessura mais reduzida. (foto: Lucas Silva)
O que você espera de um notebook gamer? Um notebook pesado, grosso e com cores chamativas e diferentes. Bem, esse não parece ser o caso da maioria dos modelos no mercado brasileiro: grande parte dos notebooks desta faixa de preço são mais finos, leves e mantém a mesma potência. O Odyssey segue na mesma linha: a espessura é uma surpresa. Em comparação ao Acer Spin 3 – um notebook conversível – o Odyssey é pouca coisa mais grosso. Comparando com outro conversível – o Samsung Style – o modelo possui uma espessura similar ao Style fechado.
Ele pesa 2,52 quilos e cabe perfeitamente em uma mochila média. O acabamento é em plástico fosco, que reveste todo o aparelho. Ele acumula marcas de dedo com certa facilidade, visíveis em diversas condições de iluminação. A cor vermelha também predomina: no exterior, o símbolo da linha acende enquanto ligado, na cor vermelha. Ao redor do touchpad, uma figura vermelha também predomina. A luz do teclado? Também é vermelha. O indicador de caps lock? Idem.

Se existe alguma exceção de cores, fica apenas para o indicador de energia do dispositivo. (foto: Lucas Silva)
Se a cor vermelha predomina, a única coisa que ocorre de não ser vermelha é a luz que indica que o aparelho está ligado, que é azul. O posicionamento das portas e botões é relativamente comum: à direita, temos duas conexões USB, uma trava Kesington e um leitor de cartão SD. Na lateral direita, temos mais uma porta USB, a conexão Ethernet uma conexão HDMI e a conexão de força, além da conexão para fones de ouvido e microfone (híbrido). Assim como nos notebooks mais modernos, não existe drive de DVD e, na mão oposta, não possui conexão USB-C.
Na área inferior, a Samsung inseriu um design hexagonal para melhor resfriamento. Assim como grande parte do notebook, os hexágonos possuem a cor vermelha. A peça é removível e mostra uma pequena possibilidade de atualizar a máquina. Além das memórias (no nosso caso, dois módulos de 4GB, padrão DDR4), o usuário também pode instalar um SSD M.2. O problema: o slot M.2, além de estar protegido pela portinhola com os hexágonos vermelhos, está abaixo de um cabo flat, cuja função é ligar a placa onde ficam as conexões USB do computador à placa-mãe.
Cabos flat são conhecidos pela fragilidade. Alguns são conhecidos por serem soldados na placa, o que não parece ser este caso. Mesmo assim, caso seja de desejo do usuário inserir algum componente M.2, é preciso extremo cuidado, calma e paciência. Na esteira de atualização física, para atualizar componentes como a placa de rede Wi-Fi e o disco rígido, é preciso retirar o compartimento das memórias e do slot M.2 e desmontar todo o computador, retirando seus parafusos e abrindo com calma e cuidado, o que é um ponto negativo (e que será explorado mais a frente).
Na contramão de algumas empresas, a Samsung adotou parafusos do tipo Phillips, padrão muito conhecido. Os parafusos são pequenos e um pouco duros e, assim como todo o restante do computador, possuem a cor vermelha em sua parte interna. Na maioria dos notebooks, estes parafusos possuem a cor azul.
Tela
A tela do dispositivo é muito boa pelo que promete: estamos falando de uma tela de 15,6 polegadas, resolução 1920×1080 (Full HD) e tecnologia IPS. Ela possui boas cores, bom ângulo de visão e, principalmente, não reflete muito. Isso é consequência do material da tela, que possui acabamento glossy, mais áspero. A contrapartida fica justamente pelo material: o material mais áspero (e consequentemente fosco) risca mais fácil. Sem parafusos aparentes na frente da tela, será uma bela tarefa trocá-la em caso de riscos intensos, caso existam.
Este dispositivo não conta com uma tela de toque, e o apelo ao público específico é parte desta decisão: não existe a necessidade como em um conversível. Isso ajuda a reduzir custos e, principalmente, a manter parte da identidade do computador, além de aumentar a resistência: apesar de riscar mais fácil, a tela não quebra tão fácil, principalmente por ter o acabamento mais áspero, e por ter um ângulo de abertura menor que os demais.
Hardware

A Samsung colocou um recurso de software capaz de mostrar a temperatura e a intensidade de uso. (foto: Lucas Silva)
O Samsung Odyssey não deixa a desejar em suas especificações base: 8GB de memória RAM DDR4, Intel Core i7 7700HQ e GPU GTX 1050 da NVIDIA (4GB de memória GDDR5), além de 1TB de armazenamento. A série HQ dos processadores Intel é conhecida por abrigar processadores de alto desempenho, mas que mantém um relativo consumo de energia. O i7 7700HQ faz parte da família Kaby Lake, que é sucessora da família Skylake: os ganhos de desempenho e economia de bateria, apesar de serem mínimos em sua maioria, são visíveis para alguns dos dispositivos que acabam optando pelos processadores da empresa
A GPU integrada faz um bom trabalho para as tarefas mais leves, já que a GPU dedicada só é ativada em casos realmente necessários. Os 8GB de RAM são suficientes para jogar e para um bom uso no dia-a-dia, apesar da demanda já começar a subir para notebooks com o mínimo de 12GB de RAM. Para tarefas básicas – como digitação de texto, navegação na web e planilhas eletrônicas – não existem problemas. Para exportar vídeos, tratar fotos e realizar tarefas gráficas, apesar de exigir um pouco mais, o hardware leva com tranquilidade.
Apesar do hardware mostrar força, algumas ressalvas são necessárias, principalmente sobre o armazenamento e a placa de vídeo, considerando a faixa de preço em que se encontra e, principalmente, sobre o tipo de público que quer alcançar. O armazenamento é, sem sombra de dúvidas, um gargalo para o dispositivo. Estamos observando um uso crescente da memória flash em dispositivos como os SSDs, que aumentam a velocidade e a confiabilidade da máquina, uma vez que não temos partes mecânicas nas memórias flash.
Quando a máquina possui um disco rígido, dois problemas ocorrem: o primeiro é a diminuição da velocidade, pois um HD de 5400RPM demora mais para acessar o sistema operacional e seus arquivos, principalmente levando em consideração o apelo para jogos, que chegam a pesar, em média, mais de 60GB.
O segundo é a vida útil: um HD, por ser composto de partes mecânicas, possui menor durabilidade e está sujeito a falhas inesperadas. Como um notebook não é um dispositivo estacionário, a vida útil do HD acaba também sendo afetada, o que gera custos futuros. A Samsung priorizou a quantidade no lugar da velocidade e da confiabilidade. E isso acaba influenciando no desempenho: no carregamento de jogos, a demora é notável. Na inicialização do sistema operacional, ainda que discretamente, nota-se certa demora. Alguns pontos do sistema operacional também demonstram demora.
O armazenamento acaba sendo reflexo de todo o mercado de notebooks gamers, não só do Odyssey em si: os principais concorrentes também utilizam discos rígidos de 5400RPM em suas composições, a grande maioria também de 1TB, o que poderia ser dispensado em prol dos SSDs. Apesar de um SSD representar um custo adicional para o modelo, ele também representa um ganho de performance significativo, principalmente para o sistema operacional: alguns recursos do Windows 10, como o indexamento constante, acabam levando o disco à 100% de utilização.
A tarefa de trocar o disco rígido por um SSD convencional também não é fácil: o compartimento que fica na parte inferior é capaz apenas de mostrar o slot M.2. Os SSDs M.2 são um pouco mais caros que os SSDs convencionais, o que pode inviabilizar a troca para alguns usuários. Outra ressalva fica para a placa de vídeo. A GTX 1050 é o modelo de entrada da NVIDIA, e é uma evolução gritante para a geração Maxwell (série 900). Toda a série Pascal é uma gritante evolução da série Maxwell, e a NVIDIA trouxe algumas placas novas, entre elas, a GTX 1050 Ti, sucessora da 950 Ti.
A 1050 Ti, em comparação à 1050 convencional, traz um ganho de performance considerável. A maioria dos notebooks gamers no mercado trazem o modelo mais potente, sendo este dispositivo um dos únicos a trazer o modelo mais básico da linha, o que o coloca em certa desvantagem. Durante meus testes, ao rodar GTA V, foi possível notar que a GPU ficava entre 97% e 100% nas configurações Muito Alta e Alta, estando o processador com uso bem menor. Mesmo sendo um jogo que acaba sugando vorazmente a CPU, o comportamento demonstra um certo “gargalo”.
Nestas condições, ativei o VSync para estabilizar a taxa de frames. Dessa forma, foi possível reduzir a carga que mantinha o jogo entre 71 e 75 frames por segundo. Ainda assim, em jogos mais antigos ou leves, o desempenho é constante e muito bom, não existem engasgos notáveis. Outro ponto que precisa de ressalvas é o da temperatura. Durante as jogatinas, observei que a CPU e a GPU ultrapassaram os 70 graus e, com o notebook em uma mesa, estavam em temperatura crescente. O gerenciamento térmico poderia ser melhorado, integrando mais ventoinhas e melhor dissipação de calor.
Teclado e touchpad
O teclado possui o conjunto de teclas americano e as teclas numéricas, localizadas no lado direito do aparelho. O teclado possui retroiluminação e uma tecla chamada Win Lock, que bloqueia o uso da tecla do Windows. É muito útil em um jogo ou em uma tarefa que você não quer se desconcentrar. O teclado é confortável e bem responsivo, a retroiluminação também é vermelha e é bem visível durante a noite. As teclas são levemente curvadas e, para quem está acostumado com o teclado americano, é muito difícil errar durante a digitação.
As teclas W, S, A e D são destacadas, de forma a melhorar a experiência nos jogos. O touchpad é razoável. É bem responsivo, bem espaçoso, não tem divisão de teclas e acaba sendo um pouco ruim em algumas tarefas. Falta um pouco de precisão e um pouco de conforto na utilização, o que poderia ser melhorado. O acabamento é similar ao do restante da máquina.
Bateria
A bateria do Odyssey é relativamente controversa. Por se tratar de um notebook gamer, a duração da bateria é menor, principalmente por conta de abrigar um processador mais potente, cujo foco é entregar o máximo de performance que conseguir. Mesmo assim, em tarefas leves, foi possível utilizar a máquina por cerca de quatro horas, alternando o brilho entre 50 e 25% em alguns momentos, como forma de compensar o dreno de bateria elevado. Nas tarefas básicas, foi utilizado o Microsoft Edge e o Word pré-instalado (Office 365).
Na jogatina, porém, a duração de bateria fica no ponto comum: cerca de duas horas são necessárias para drenar a bateria do dispositivo por completo e, dependendo do jogo, este número cai para uma hora, por conta do processador e da placa de vídeo, que aquecem e acabam consumindo muita bateria.
O Samsung Odyssey vale a pena?
O Odyssey é a primeira entrada da Samsung no mundo gamer de computadores, aproveitando um mercado crescente. Por cerca de R$4.500,00, é possível levar um computador bom para diversos usos, não só o uso de jogos. A GPU dedicada ajuda na exportação de vídeos e nos trabalhos gráficos mais pesados. Para o uso básico, maestria, graças ao hardware potente e que não deixa a desejar. O porém desta história fica justamente para a parte onde ele é mais focado, os jogos modernos que consomem recursos como água e são extremamente populares.
Apesar de conseguir rodar jogos que demandam uso extremo do processador – como GTA V – é notável o uso de uma força muito grande, e que pode desestabilizar o conjunto. Durante os testes, é possível notar que a GPU acaba ficando em 100% constantemente, o que não ocorre com o processador. Outros modelos na mesma faixa de preço, com hardware similar, já adotam a GTX 1050 Ti como referência e até mesmo placas da AMD, que melhoram o desempenho de certa forma, adicionando até 10 frames por segundo em alguns casos.
O armazenamento também é um problema, que se estende para a grande maioria dos concorrentes: em 2018, ainda é possível ver notebooks caros com HDs de 5400RPM, que são mais lentos e menos confiáveis. O ideal seria um SSD, como já ocorre nos Estados Unidos com o próprio modelo da Samsung. O Samsung Odyssey é a primeira tentativa da coreana para o mercado gamer. Apesar de deixar a desejar em alguns aspectos específicos, como o armazenamento e a placa de vídeo, ele mostra força e mostra que é preciso refinar o hardware ainda mais.
Samsung Odyssey
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8.4/10
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9/10
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7.8/10
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9/10
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8/10
Sumário
O Odyssey é o modelo mais potente da Samsung no mercado de notebooks. Custando R$4.500,00, em média, ele vale a pena, desde que suas limitações sejam respeitadas, principalmente na placa de vídeo e no armazenamento, que acabam deixando o modelo em desvantagem. As possibilidades de atualizações físicas são limitadas, podendo atualizar apenas a RAM e a adição de um SSD M.2. Ele é capaz de dar conta de todas as tarefas e da maioria dos jogos modernos, ainda que exista um “gargalo” entre a CPU e a GPU, distribuindo sem igualdade o trabalho pesado.